segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Entrega

Essa é apenas uma maneira de deixar as palavras emergirem da alma sem censura, para que elas possam traduzir de alguma maneira o que se passa internamente.
Não há um objetivo além de simplesmente expressar o que está guardado, o que por si só já é suficientemente nobre.

É porque quando se vive intensamente e se entrega verdadeiramente a vida, a necessidade de guardar momentos e de externar aprendizados começa a surgir, o que nada mais é do que um processo natural de compartilhar e dividir. Não há como negar que o ato de "escrever" se torna uma solução óbvia quando se pensa, por exemplo, em eternizar sentimentos.

Talvez essa seja também uma maneira de estar mais perto dos entes queridos, ou talvez seja uma necessidade de ser compreendida, ou pode ser simplesmente porque a alegria deve ser compartilhada para que seja completa (e a tristeza para que seja curada).

E quando se fala em escrever se fala também em entrega, em deixar as palavras fluírem naturalmente. É como fazer um desabafo tão profundo quanto bem elaborado.
Falo sobre entrega porque esse foi um dos meus últimos aprendizados e por ainda estar latejando na minha cabeça.

Quando me mudei de país sabia que eu deveria me "entregar" às novas experiencias, não havia como ser diferente. O conceito é simples, principalmente quando vem recheado de novidades em um lugar belíssimo. Mas o ser humano tem aquela forte tendência ao controle, de mapear todas as possíveis dificuldades como quem busca incessantemente pela sua zona de conforto. Chega a ser quase um desespero para tornar o desconforto em conforto, como se após esse processo pudéssemos respirar aliviados novamente.


É aí onde mora o aprendizado, em se jogar fora da zona de conforto de olhos fechados, permitindo sentir medo e descobrindo como se lida com ele. É se entregar ao novo país, a nova cultura, a nova língua, é errar, acertar, errar de novo e aprender a rir dos erros. Esse é o processo, essa é a entrega, aí mora o crescimento.